sexta-feira, 13 de junho de 2014

Conversando sobre Educação, com Míriam Bueno

Caros leitores
           
Na edição desse mês vamos abordar um tema que tem tomado conta das mídias nos últimos meses: as manifestações juvenis, em todo o país, contrárias a Copa 2014.

“Da Copa eu abro mão!
Eu quero é salário, saúde e educação”

            Quanto mais se aproxima a Copa do Mundo, mais mobilizações e greves sacodem o Brasil. O protagonismo não é o das ruas coloridas de verde e amarelo, mas das inúmeras categorias em suas greves, piquetes, passeatas massivas e ocupações urbanas.
A indignação não é com um jogador ou outro que ficou de fora da escalação, mas com os baixos salários, com a inflação, com os altos preços dos alimentos, com a precariedade do transporte público e da educação pública, com as filas dos hospitais, com as remoções, etc.
Já está claro que nossa Presidenta, governadores e prefeitos não conseguem mais enganar o povo com o discurso de que a Copa traria benefícios, porque só o que vimos até agora é que as nossas condições de vida pioraram enquanto o bolso dos banqueiros, empreiteiros e corruptos fica cada vez mais cheio.
O governo continua destinando grande parte do orçamento geral da União para juros e amortizações da dívida pública. Tudo isso diante de uma crise econômica que se aprofunda.
É impossível, neste momento, fazer uma análise clara sobre os desdobramentos e os impactos das manifestações, pois as coisas ainda estão acontecendo e de uma maneira muito rápida. O que podemos fazer é levantar alguns pontos a respeito, debater, sem necessariamente pensar num encaminhamento.
1.    A ocupação das ruas como estratégia política
Grandes manifestações com diversas classes sociais ocupando o espaço público não são uma novidade, nem no Brasil, nem no restante do mundo. Claro que elas são bem diferentes entre si, sobretudo se analisarmos a conjuntura em que cada uma ocorreu, mas a ocupação do espaço público como estratégia política é um traço comum, além da participação muito importante da juventude. É comum em manifestações desta natureza, que se explicitem as contradições que apareceram nas reivindicações também no Brasil.

2.  A pauta dos transportes como agregadora de outras temáticas
O Movimento Passe Livre, que puxou as manifestações em São Paulo e até mesmo em Goiânia, teve grande êxito pela forma de organização - fruto do Fórum Social Mundial e da proposta de movimentos pautados na horizontalidade, mas que sabem dialogar com a política tradicional– e por saber passar uma mensagem simples, clara e bastante agregadora. Eles puxam por uma pauta máxima: tarifa zero, mas não caíram de paraquedas no tema, são bastante politizados e a mensagem, além de simples e direta para a população, é agregadora de diversas outras temáticas, como a privatização e a qualidade dos serviços públicos, o direito à cidade, os impostos, a transparência na gestão da coisa pública etc.

3. A diversidade das pautas reflete as disputas postas na sociedade brasileira
As manifestações vêm crescendo da primeira à última, mas têm um ponto claro de inflexão: a violenta repressão policial assistida em São Paulo e em outras cidades. Ao ir às ruas pelo direito à livre manifestação, a população acabou ampliando os temas e expondo a diversidade de pautas e conflitos próprios da sociedade brasileira. Vários temas apareceram: PEC 37, os investimentos na Copa, ‘Cura Gay’, reivindicações por serviços públicos de qualidade. Há uma amplitude de pautas, tanto de esquerda quanto conservadoras, como contra o aborto, pelo apartidarismo e pela redução da maioridade penal. Isso chama a atenção para a presença de vários setores chamados a participar da sociedade pelo consumo, mas que nunca conheceram um Estado de bem-estar social. Além disso, demonstrou que há uma grande dissintonia entre as expectativas da população em geral e a capacidade de representação e de respostas das instituições e instâncias de poder. Há uma vontade de participação e é preciso valorizá-la.

Em nossa opinião, essa nova situação da juventude não indica uma morte das utopias e da ação direta do jovem na sociedade. Por mais que não possamos ver claramente a ascendência de novos movimentos juvenis politizados, não podemos desconsiderar a presença de uma juventude que possui e demonstra suas demandas sob as mais diferentes formas. 
Enquanto isso, as gerações futuras nos reservam a transformação que os adultos de amanhã talvez não imaginem.
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